fevereiro 01, 2011

Antigas cartas de amor.


''Hoje, somente com a saudade remanescente do tempo que amamos, folheio avidamente as belas páginas de amor que escrevi inspirado em ti. O corpo, encurvado pela idade, pelos embates da vida, deixo-o abandonado no sofá, enquanto a alma, evolando pelo espaço, percorre os anos revisitando avidamente acontecimentos que nos foram caros. As mãos, tocadas pelas rugas, seguram amarelecidas cartas. Nelas, para mim, ainda contém trechos vivos, parcelas de vivências inesquecíveis. Vidas que tivemos e nem o tempo conseguiu apagá-las; sobreviveram na favila de meu pensamento e rodopiaram hoje em minha mente, libertando-se, então, das cinzas que trago comigo. E tu? Será que ainda te lembras de mim? Ou libertaste da dor com a cruel separação a que fomos levados? A vida nos reservou uma tortura difícil de compreender. Eu que acreditava e via em nós o mais sublime dos amores, por um instante o cruel destino converteu-o em fragmentos de penosos sofrimentos. Nem mesmo um aperto de mãos para encadear uma amizade. Nada, nada tive de ti.
Somente me vem à lembrança, os teus tristes olhos fitando-me com um dor imorredoura, arrancando-me profundos suspiros, incapazes de explicar ou entender o pesado silêncio que sobreveio fatal. E nos afastamos lentamente assim, incompreensivelmente em silêncio. Eu tinha medo de perdê-la, mas uma força estranha afastava-me cada vez mais de ti; lutava inutilmente contra um inimigo invisível, poderoso, que cravava suas unhas nas minhas entranhas levando-me para um inferno de desconsolo e mágoas. Fui levado e nos separamos. Hoje, relendo estas páginas que tantos anos trago comigo, as lágrimas quentes me afloram à face, escorrendo impiedosas seu sabor até à boca, misturando ao gosto saudoso de tudo que ficou. Tive-os comigo sempre para você. Se ainda toco a tua sensibilidade - imagino - confesso que me encontro espinhado(a) por ela. Querida(o), talvez neste momento esteja a alisar os cabelos de teus netinhos como a brincar com instrumentos inocentes, alheia(o) a tudo que passamos. Se choras por mim, não sei; se pensas em mim, não tenho certeza disso. Todavia, se me tens furtivamente no coração, consola-me o peito.''

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